domingo, 31 de janeiro de 2010

Frases de Momento


“Mesmo amores eternos se acabam. Mesmo quando prometidos”.

“Amores recíprocos não existem. Existe o estimulo de um só amor para outro que se diz amor”.

“Sempre que puder evite o não que te impede de viver”.

“Viva contando e vivendo os segundos, pois em um segundo você pode deixar de viver”.

“Só quero que algum dia alguém diga que me ama ou o quão sou importante”.

“Escrevo a minha vida para ter a certeza que vivo”.

“O porquê que a DECEPÇÃO me ENSINA; a TRISTEZA me FORTALECE; mas o AMOR me DESTROE?”
“Meu sorriso acoberta a grande tristeza que cultivo em meu peito”
“Uma pergunta?
- Quando serei feliz”

“Se tivesse um pedido, pediria que as minhas lágrimas não fossem de tristeza”.

“Se ao menos um bom dia.
Ou apenas um tudo bem.
Se dissesse vai que vou contigo,
E se caíres eu te levanto.
Se ao menos isso
Nomear-te-ia de amigo”

“Eu não sei se eu quero
Um alguém tão sincero
Que sonhe o que eu sonho
Pra dizer que é loucura”

Angústias do mundo

Fome, de que? De alimento, de roupa, de dignidade, de vida, literalmente de vida. Caça, estamos cansados de ser, porque que não podemos ser uma vez caçadores, de alimento. De roupa. De dignidade. De vida. Literalmente de vida. Vida, que vida? Não se vive a Vida esperando a morte, eu vivo, e por isso não respiro o tanto de ar que uma pessoa normal de outra parte do mundo respira, não porque não quero, mas porque eu não tenho mais forças para puxá-lo até o meu pulmão, pulmão que mostra sintomas da falta de mim. Quem? Quem está olhando para nós? O mundo nos virou as costas, pois nunca teve a coragem de olhar nos nossos olhos, de nos encararem, qual o perigo que representamos, a doença que vocês nos empurram pela boca? Eu, numa tentativa desesperada de não beber desse veneno vomito nos seus pés. Eu também tenho pele, eu também tenho sangue, eu também tenho direitos, que me foram tirados, no momento em que nasci.

O fotógrafo dessa foto ganhou o maior premio da fotografia, pela melhor fotografia, mas semanas depois se suicidou. Ganhou o troféu, mas perdeu a vida!

Quanto à criança... digamos que o abutre saciou a fome!

Desabafo

Solidão que arde em meu peito
Noite fria que queima em minha pele
Tenho que encontrar algum jeito
De fugir de quem me fere

Na multidão procuro um olhar
Só encontro olhares perdidos
Não há ninguém que possa me ajudar
Nem mesmo outros antigos

Tua mão vil estende-se na minha direção
Meu olhar baixo amedrontado
Olho direto para tua sombra no chão

Tua feição dizendo “coitado”
Não preciso de sua compaixão
Pois pela solidão já fui amparado

Teus olhos

No limiar dos raios mais esplendorosos
Lançados em terra por Deus
Vejo os teus olhos calorosos
Brilhando mais que os próprios raios
Quando o teu corpo toca o meu
Formulo as minhas leis de sobrevivência
Ainda na convalescença
Do entorpecimento que me causas
A flor do fim do ano
Vem contemplar tua beleza
Fazendo-te rainha em meio às falsas
Se até os anjos te elevam
O que eu posso a tua frente
Se sou apenas um mortal
Deturpado exageradamente
Pela célula cancerígena
Que arde em meu peito
Quando estou longe de ti.
Quando exalas transparentemente
Teu perfume eloqüente
Desvaneço em meio à escuridão
Da tua sombra sobre a alfombra
Que se atrita aos meus pés
E me vem à angústia
De águas passadas, cansadas, paradas
Que não movem mais moinhos
E torno-me pequeno
E desapareço em tua mão.

Sou completo

Sou completo, pois tenho letras e delas posso fazer sílabas que fazem palavras que formam frases de amor pra dizer que eu te amo. Eu sou completo, pois tenho sempre o teu sorriso estimulando-me a viver feliz. O que mais me encanta, é a sinceridade do teu olhar, a facilidade com que ele vê a vida. A doçura da tua voz ecoando no silêncio do meu coração, fazendo-o palpitar novamente. Eu sou completo, pois aprendi a viver observando-te, aprendi a amar amando-te, aprendi a ser feliz, rindo contigo. Não me deixe, sem antes olhar para trás e se despedir, ficaria magoado se não te desse um último adeus, se não olhasse nos teus olhos e tivesse a certeza que te seguir não seria uma boa idéia, pois tudo o que construímos juntos iria desmoronar-se em lágrimas. Não me importa com quem você vai, nem pra onde você vai, importa-me saber se vai feliz, se foi sua melhor escolha. Mas quero que saiba que onde estiver estarei sempre contigo mesmo à distância estarei torcendo por tua felicidade.
Nunca esquecerei do teu rosto próximo ao meu, do calor do teu corpo embaçando os meus olhos e esquentando-me, nunca esquecerei o gosto dos teus lábios pequenos que se tornavam gigantes quando juntos aos meus. Desde a primeira vez que eu te vi, sabia que meu lugar tinha que ser ao teu lado, mas na vida quanto mais imaginamos como uma coisa deve seguir ela insiste em seguir o contrário. Sei que o amor mesmo que mais forte que seja tem um dia a chama apagada, talvez por isso o poeta já disse: “Que seja eterno enquanto dure”. E o nosso será, porque vamos aproveitar cada segundo, cada momento, cada crise de riso e de choro. Vamos ser felizes nos momentos em que todos estiverem tristes e felizes quando estes também estiverem. A melhor coisa do mundo é viver. A segunda melhor coisa do mundo é viver com alguém. A terceira melhor coisa do mundo é que esse alguém seja você.

Parado no tempo

Os momentos vão passando
As coisas acontecendo
As lágrimas vão rolando
E o tempo esvaecendo

Os cabelos assanhados
As rugas aparecendo
Subindo outros altos
Vou cantando o meu lamento

E no decorrer de tudo
Não vi quase nada
Só o tempo passar

Não conheci o mundo
E quem eu tendo amava
Cansou-se de esperar

Triste


Lembranças tristes
De um momento perfeito
Fúnebre as matizes
Que queimam em meu peito

No meu olhar os meus amigos
Nos teus braços a minha vida
Nos meus braços sopros antigos
Nos teus olhos minha ferida

Escondi-me neste quarto
No espelho o reverso que vi
No instante em que passava

Mostrou-me o que eu vivi
E que o rosto que eu usava
Não foi feito para mim

Ponto de equilíbrio

Quando olhei nos teus olhos os meus sentimentos se traduziram em hieróglifos. O meu corpo estremeceu como que por um instante eu visse um outro mundo, como que por um instante eu a visse de branco, impossível. Não falei nada, como poderia, se o silêncio naquele momento nos apresentou, se o silencio, naquele momento, falou por nós. O escuro da noite era apenas um pretexto para que os teus olhos pudessem brilhar intensamente, e brilhavam tanto que eu já os confundia com o brilho das estrelas, e as estrelas eram poucas, só algumas que tiveram a coragem e a audácia de te enfrentar, as outras por covardia se esconderam por trás das nuvens que tomavam parte do céu. Pouco tempo depois até o céu se escondeu. Toda uma imensidão acima de ti, toda uma imensidão abaixo de ti, e você no meio, no ponto de equilíbrio. A chuva desenhava as curvas do teu corpo, delimitando-as na mais pura perfeição.

Fim de tarde


No final da tarde
O sol se despede
Vai embora sem alarde
Seu posto à lua cede

Com ela vem a esperança
Vem também a escuridão
Trás os sonhos das crianças
E para os adultos a solidão

Que se agarram com suas preces
Num último suspiro de salvação
Vendo que nada acontece
Em mais uma noite de escuridão

E o que mais resta?
É dormir novamente
E amanhã ir à mesma festa
E cumprimentar a mesma gente

Falhas no tempo

Não é porque não falo
Que não gosto
Não é porque não olho
Que não vejo
Não é porque não beijo
Que não amo
Não é porque não toco
Que não desejo
Não são os momentos
São falhas nos tempos
Sem volta
São horas
São lágrimas de revolta
Olhares perdidos
Sorrisos vendidos
Enferrujados
Na foto teu rosto
No rosto a tua foto
Perde-se do foco
Da luz do sol
E eu te espero
Presente passado
No futuro atrasado
De uma vida sem vida
Eu amo
Mas de uma forma diferente
Eu não uso gestos
Eu uso a mente
Não são faladas
São escritas
Escritas inteligíveis
Onde as palavras não se entendem
Entendem-se da maneira delas
Como se elas por elas
Falassem por mim

Funeral


Estava lá, no centro da sala
Estático, não ouve, não ver, não fala.
Não sente a dor de ver a dor
Das outras pessoas que choram
A sua partida inesperada.
Cada soluço de tristeza
Uma letra de saudade
Nesse instante se esquece à frieza
Que se diz ter na humanidade.
Expressam-se sem fala
Chorando pelo corpo que estava lá
Estático no centro da sala.
E no enorme casebre de restos mortais
Onde o inanimado já pulsou vida
As grandes caixas formam labirintos
E a vida passa diante dos olhos úmidos
De tantas lágrimas que caíram
Pelo corpo que não mais fala
E que continua lá, estático no centro da sala.
Era um lugar onde as flores mais belas
Causavam-me repugnância
Desde a minha infância
Jamais desejara estar ali
Nem por um segundo
Nem mesmo que aquele fosse
O ultimo lugar do mundo.

Mulher e Poesia

Tu és poesia
Na tristeza, na alegria.
Vivendo todo dia
A graça essencial
De ser mulher
Perco o meu olhar no teu corpo tão bonito
Apuro o meu olfato no teu cheiro
Em abundância
Vives para colorir o infinito
E do perfeito tu és
A verossimilhança.
Se nunca disse
Digo agora
“Eu te amo”
E de alguma forma serei teu
Na terra ou no mar
Nossos caminhos se cruzarão
E então seremos felizes
No céu ou no inferno
Não importa não me interesso,
Pois tenho a ti pra me distrair
Não verei
Se não forem os teus olhos
Não tocarei
Se não for o teu corpo
Não beijarei
Se não forem os teus lábios
Não viverei
Se não for por ti.

Dueto


Que nem sempre a vida dure mais que um segundo
E que certas pessoas não precisem do mundo
Que nem sempre o dia é estar acordado
Que nem sempre a mente é algo abstrato

Que nem sempre o tudo seja sempre exigido
Que nem sempre se contente com o escolhido
Que nem sempre as lembranças tragam alegria
Que tragam ensinamentos pra se viver melhor o dia

Que nem sempre o sempre seja eterno
Que nem sempre amor maior seja o materno
Que nem sempre o tempo seja relativo
E que nem sempre seja tão passivo

Que nem sempre o caminho seja o certo
Que nem sempre tudo esteja tão perto
Que das nuvens caia só o necessário
Que o céu seja algo mais que o imaginário.

Que as coisas improváveis se provem
Que os amores eternos aflorem
Que o contraditório se contradiga
Que a nova moda seja a antiga

Que nem sempre o escuro dê medo
Que nossa história tenha, ao menos, enredo.
Que os guardas não usem apito
Que os gritos mais altos não sejam do aflito


Vinicius e Alana

E então...

E então, teus olhos fixos nos meus
E os meus olhos fixos nos teus
Comunicavam-se
Apaixonavam-se

Beijos intensos
Amores imensos
Perfume
imune

Flores
Declarações a meio prazo
Esquecimento
Sentimento

Amor
Palavra de sorte
Adoração
Palavra forte
Paixão
Palavra de morte

sábado, 30 de janeiro de 2010

Poemas fingidos

Ai moça, dizes o que queres.
Se for verdade que me amas
Por que tanto que me feres?
E depois por que me chamas?

É verdade que eu me finjo
Mas é claro que te amo
As metas que eu não atinjo
São as que eu mais aclamo

Meu fingimento nas poesias
Não deixa de ter verdade
Vão se passando os dias
Vai ficando a idade

Vai aparecendo a velhice
E as falhas na memória
Quem dera que eu fingisse
Em parar o tempo agora

Quem sabe assim eu vivesse
Escrevendo e te enganando
E quem sabe eu percebesse
Que só vivo te amando

Quem sou eu?



Eu não posso dizer quem eu sou ainda. Não tenho um ego totalmente definido, pois sou um ser que está em freqüente transformação. Sou um ser que ainda precisa aprender muito do que a vida tem para ensinar. Sei que estou no caminho que julgo ser o certo, pode não ser, mas juro que ele é o mais estreito que eu encontrei. Muitas vezes senti-me fraco, mas soube superar essa fraqueza e transformá-la em coragem para superar mais uma vez os obstáculos que a vida insistentemente nos impõe durante muito tempo, mas percebemos que é isso que nos fazem sábios suficientemente para definir o certo e o errado, o mal e o bem, o afirmado e o duvidoso, o que é sincero e o que não passa de uma simples farsa. Isso é a vida. Isto sou eu, uma garrafa lotada de sentimentos diversos, colidindo constantemente, contrastando com o que eu demonstro ser. Indefinindo o que eu já havia definido zilhões de vezes, quiçá até na outra encarnação, se é que isso realmente existe, se é que isso realmente influencia a nossa vida, dizem que sim, mas só dizer não é o suficiente. É preciso ver para crer, é preciso tocar, sentir e ter a certeza científica dos fatos em questão. É essa a lei da vida. Vive melhor aquele que não tem a vergonha de ser ridículo. O que é felicidade? Eu não sei, e se souber me ensine. E para responder a esta pergunta: “Quem sou eu?”, preciso mais de alguns anos. Se bem que já disseram que eu era uma boa pessoa.

O fim do poeta


Meus sonhos de poeta
Esvaíram-se no escuro
Não consegui minha meta
Pois fui tão imaturo

Cegos, os meus sentimentos.
Andantes, minha alma e meu corpo.
Furtivos, os meus pensamentos.
Fingido, o meu ego morto.

E aquela sombra no meio do temporal
E aquela lembrança inesquecível
O meu corpo passando mal

Os olhos avistam o imaterial
A vela tão acessível
Mas o meu corpo já passa mal

Às rosas

Confundo-te entre as flores
Descubro-te
Ao ver que as abelhas
Ignoram-nas ao sentirem o teu perfume.
Amo-te
E sei que é a mais bela De todas as donzelas.
Quero-te
para todo o sempre.
Desejo-te
tanto quanto o ar pra respirar.
Beijo-te,
E cada beijo é como se sempre fosse o primeiro.
Vejo-te
como o amanhecer
Tão pura bela e radiante.
Penso em você
A cada inalação do ar
Poluído de tanta saudade
A cada segundo que fico longe de ti.

Poema de um velho

Eu, um velho incansável
De adoração inimaginável
As flores do meu jardim
Amei-as tanto
Que esqueci de amar quem estava ao meu lado
E até a mim.
Um dia lindo e ensolarado
Transformou-se em um monstro
Escuro e alado com raiva de tudo e todos
Escondi-me embaixo do manto
Tremendo de medo, frio, enfim,
Levantei-me e pela janela
Vi as rosas clamando por proteção
Mas eu nada podia fazer
Só ajoelhar-me por salvação.
Mas nada adiantou
As rosas morreram como bravas guerreiras
Esperançosas de amor.
E eu, no manto que me deu proteção
Morri entristecido
Lembrando os amores esquecidos
Que levo no coração.

É porque eu te amo

Você - Por que toda vez que você chega perto de mim, você fica com a respiração ofegante, suas mãos ficam trêmulas e frias?


(Porque eu te amo.... Não é porque o sol acorda todo dia no mesmo horário de contraponto com a pontualidade da lua do outro lado do mundo, nem porque os admiradores a esperam ansiosamente para declararem que amam as flores e têm ciúmes dos egoístas dos beija-flores, nem porque os animais também acordam, nem porque os escritores seguem a vida escrevendo seus textos em seus momentos de solidão, textos melancólicos e bobos que fazemos questão de lê-los e relê-los quando estamos tristes e buscamos neles algo que nos faça chorar e nos libertar das lágrimas presas nos olhos que buscam algum motivo para cair.

Porque eu te amo... Não é porque as pessoas passam protetor para proteger a pele do sol, para tornar esse rei brilhoso e gigantesco em um ser puramente inofensivo. Nem porque a música, que o vendedor de flores canta na madrugada, e ecoa nas ruas vazias cobertas de orvalho, chegam aos meus ouvidos como um ruído agradável.

É porque eu te amo... Porque o teu sorriso me dá vida e modifica as vírgulas e os pontos finais da minha pobre vida transcrita num papel amarelado de um caderno no fundo de um velho baú, guardado no porão da casa de uma criança órfã.

É porque eu te amo... Não porque os poetas buscam suas musas para escrever os poemas mais lindos que um poeta pode escrever, nem porque as musas se eternizam em versos e estrofes de um poeta louco de amor, que busca sofrer as dores da vida para passar para o papel os mais verdadeiros sentimentos.

É porque eu te amo... Não porque o planeta está a cada dia mais quente, nem porque as calotas polares estão derretendo a todo vapor, nem porque é das tragédias que se fazem as mais belas histórias de amor.

Porque eu te amo... Porque se eu não te amasse, eu não seria o tal poeta que dizem que eu sou)


EuÉ porque eu sou um pouco tímido.

No banco da praça

A praça era a mesma. As árvores, as mesmas. As pessoas, as mesmas também. O vento, um pouco mais forte, porém, não deixou de ser o mesmo. O céu continuava estrelado. As estrelas cintilavam com a mesma intensidade e a lua continuava sorrindo. Até os atrofiados e pequenos frutos e folhas caíam no mesmo lugar, sobre nós.
A vida era a mesma, não havia motivo para mudar. Quem podia fazer isso naquele momento deveria estar contemplando algo que nasceu de uma grande onda de criatividade. Devia estar organizando o universo ou mergulhando nas profundezas do universo marítimo.
Mas algo fugia à sincronia universal, à dança ritmada dos astros. Algo tão intimista tão profundo, obscuro e sóbrio. Algo que se manifestava dentro de nós. Algo desconhecido que vamos descobrindo a cada segundo, cada palavra, cada passo onde se acendia uma luz que nos revelava que nós éramos os únicos fora do eixo. Os únicos desconhecidos. Os únicos que tinham um olhar opaco, um sorriso em preto e branco. Entonações não ensaiadas que fugiam ao roteiro original, imaginado. E se isso estivesse na rubrica da primeira página que arranquei pra te fazer um coração de papel e infelizmente neste mesmo dia choveu. E agora não temos mais como ler esse papel, foi desmanchado. Seguiremos o texto pra saber o final? Ou paramos por aqui para evitarmos surpresas? Vamos continuar. Quem sabe a última página esteja em branco e caberá a nós escrever o nosso final. Caberá a nós fugir da corda bamba que é a vida. Esquecer o que foi dito e enganar o destino.

Manias

Na fila do banco as atenções se voltaram para ele, que deitara no chão. Algumas pessoas diziam que ele desmaiara outras, que ele morreu.
Osvaldino Ferreira era assim, sempre que estava num local cheio de gente tinha a mania de fingir-se de morto, no começo era apenas um divertimento. Quando criança, sempre que se metia em confusão, fingia-se de morto para se safar. E sempre conseguia, muitas vezes, fingia tão bem que dona Mariazinha, sua mãe, o levava para o hospital, em prantos, mas o médico olhava para o menino, e sabendo de sua danação o mandava embora, mas a dona Mariazinha só saía de lá se fosse com um remédio para o filho, e o doutor sempre medicava, muita palmada na mão.
Cresceu com essa mania, que já se tornara uma compulsão, bastava estar num local cheio de gente para logo cair no chão. Era conhecido por todos como “o maníaco das sete vidas”. Talvez fosse hereditário, pois toda a família tinha uma mania. O pai, seu Jerúndio, tinha uma mania que lhe custava muito dinheiro. Sempre que sentava para assistir à televisão, ficava ligando e desligando-a freqüentemente. Era uma televisão a cada semana. Dona Mariazinha, coitada, carrega uma mania desde que começou a andar. A cada três passos D. Mariazinha dava um pulo. Era conhecida na vizinhança como a “mãe canguru”. Osvaldino cresceu vendo as estranhas manias dos pais. Talvez por curiosidade, tentava imitá-los, mas não conseguia, pois não tinha a rapidez do pai e nem a sincronia da mãe. Mas nem sempre, as manias só traziam prejuízo, por exemplo, D. Mariazinha, toda páscoa era paga pela prefeitura para se fantasiar de coelho de páscoa para sair distribuindo ovos nas comunidades carentes. E assim foi toda a vida de Osvaldino. Até o momento em que encontrou uma namorada.
A namorada de Osvaldino, já sabia da mania dele, e até achava engraçado, talvez isso dera inicio ao namoro. Depois de dois anos namorando, Osvaldino pediu a mão de Marcineta em casamento. Marcineta era uma moça, estudada. Estudara quase a vida toda em escola particular, mas parou no ensino médio, por que segundo ela “pra que estudar se o futuro era a morte”. Cresceu num bairro de classe média. Era muito paparicada quando criança por toda a família, ganhava presente toda semana, a casa era lotada por parentes e amigos, até que, no aniversário de quatro anos, ela pôs fogo na cortina, e jogou bolo em todo mundo. Tinha um gene de destruição em massa.
Mas foi assim, D. Mariazinha e seu Jerúndio, estavam muito felizes com o filho, que segundo seu Jerúndio, se tornara homem, pois homem que é homem tem que ter uma mulher. No dia do casamento D. Mariazinha não se segurava de alegria, e saltitava como nunca. Seu Jerúndio, sentado na cadeira de balanço, já fazia planos para quando os netos chegassem. O momento tão esperado chegou, a igreja lotada, as pessoas todas cochichando, falavam de Osvaldino. Querendo entender como uma moça tão estudada casaria com uma pessoa daquela, mas a música começou a tocar e todos ao mesmo tempo, numa sincronia perfeita, olharam para a porta da igreja. Marcineta, com um vestido longo e o véu na cara entrava desfilando entre os bancos da igreja, sorrindo, exibindo-se em passos lentos. Acompanhada por seu pai, que não parava de chorar um segundo sequer. Chegou ao altar. Osvaldino pegou na mão de Marcineta, e sorriu para ela. Ele a amava. E aquele, sem dúvida era o dia mais feliz da vida dele.
A cerimônia prosseguiu até a hora de Osvaldino dizer sim, mas no momento em que iria responder, Osvaldino caiu no chão. Ninguém nem se assustou, pois seria só a velha e conhecida mania de se fingir de morto. Mas os minutos se passavam e Osvaldino não voltou a si. Foi então que perceberam que não era apenas a velha e conhecida mania de Osvaldino de se fingir de morto. Ele agora realmente tinha morrido.
O enterro de Osvaldino foi um dos mais tristes ocorridos na cidade, desde os últimos anos, e o que havia mais gente, quase toda a cidade comparecera ao enterro. OS pais de Osvaldino não paravam de chorar, e a quase viúva Marcineta soluçava o quase casamento. Chorava muito. O enterro seguiu. O dia na cidade não foi o mesmo sem o Osvaldino. E nem seria pelo resto da vida. D. Mariazinha se conformava quando pensava que o filho já nascera treinando para morrer.
Marcineta ficou morando mais os pais de Osvaldino, pois seus pais se mudaram logo depois da morte do quase genro. D. mariazinha cuidava de marcineta como uma filha, e seu Jerúndio, continuava sentado na cadeira de balanço, desligando e ligando a televisão, mas agora lamentando por não poder mais fazer planos para os netos. Meses depois, Marcineta começou a trabalhar no mesmo banco da cidade em que Osvaldino trabalhava. Mas logo foi demitida, porque na hora do expediente, fingira-se de morta.

Biblioteca

Todos os dias, às duas da tarde, eu freqüentava a biblioteca. Acordava de manhã já pensando no livro que leria. Mas não eram os livros que me faziam freqüentar assiduamente a biblioteca, o que me fazia estar lá sem falta todos os dias era ela. Que adorava os livros e aquela biblioteca, pois estava lá constantemente. Ela sentava na cadeira da mesa da frente, em sua mesa havia vários livros, todos abertos, mas ela só lia um. Eu ia todos os dias porque sabia que ela estaria lá, também sabia que ela ia não era por causa de mim, mas pelos livros. Até que um dia eu a olhava fixamente, e de repente ela pôs os olhos em mim, pela primeira vez, soube que eu existia e que estava lá na sua frente. Tentei desviar o olhar dela, para que ela não percebesse que eu a devorava pelos olhos. Baixei a cabeça, e percebi que ela estava com um sorriso no rosto.
Desde esse momento, trocávamos olhares. Nunca nos falávamos, apenas trocávamos olhares e sorrisos que iam e viam na velocidade da luz com mil palavras escritas no ar. Entendia-nos só pelos olhares, e quando queríamos nos dizer alguma coisa apelávamos para os livros que era o nosso melhor meio de comunicação. Eu ia até a estante e pegava Vinícius, ela Clarisse, assim ela já sabia de meu romantismo e eu de seus enigmas. Mas um dia, e outro dia, como se fosse combinado estávamos lá no mesmo horário e nas mesmas mesas. Ela sempre saía antes de mim, para que nós não nos esbarrássemos e quebrássemos o encanto de nos falar e se conhecer. O desconhecido sempre é mais prazeroso. Mas um dia eu me levantei para trocar o livro, eu não lia nenhum, não gostava muito de ler, estava lá por causa dela, não pelos livros. Mas ela não percebeu, e nos levantamos juntos, ela ia embora. Devia ter algum compromisso, e nesse momento nos esbarramos, ela se desculpou, e pela primeira vez eu ouvi sua voz. Uma voz doce, serena. Quando ela olhou para cima, pois tinha se abaixado para pegar o livro que caíra no chão, e percebeu que se tratava de mim, ela ficou vermelha de vergonha, aquilo não poderia ter acontecido, não sabíamos o que nos dizer, aquela aproximação nunca ocorrera antes. Sua respiração estava ofegante. Eu não respirava, só para não sentir que o tempo estava passando. De súbito, como que por impulso, abaixei-me para ajudá-la a levantar. Ela respirou como se tomasse de vida uma grande porção. Ficamos de pé, um na frente do outro, nos olhando fixamente. Conhecendo-nos. Namorando. Viajando um dentro do outro, nos sentimentos em comum que explodiam dentro de nós, forçando-nos a nos abraçar longamente, mas ficamos só na vontade. Olhando-nos. Nesse momento a biblioteca emudeceu, os livros paravam de gritar suas histórias e suas poesias, dando lugar ao silencio de um livro de páginas em branco foliado pelo vento. Mas não demorou muito e os livros voltaram gritar, e eu, a sentir o frio que lá fazia. Ela partiu sem olhar para trás. Eu olhava fixamente sua silhueta que sumia por trás da porta que se fechava lentamente, provocando-me. Eu não tinha mais nada a fazer ali, logo depois também fui embora.
Á noite não consegui dormir, aquela cena se repetia varias vezes, eu rolava na cama, lembrando do seu cheiro, da sua pele. No outro dia, não pensava em mais nada a não ser a biblioteca e nela que estaria lá me esperando. Quando eu cheguei, para minha surpresa ela não estava, sentei-me, pensando em vários motivos que pudessem explicar a sua falta. Ela pode ter se atrasado. Duas e meia, ela não chegou. Três e meia. Nada. Ás quatro horas eu já não sabia o que fazer, ela nunca faltara antes, o que poderia estar acontecendo que a impedisse de vir ao meu encontro. Dava-me uma angústia no peito ao ver a cadeira da biblioteca vazia, sem livros na mesa. E aquele local começou a me parecer estranho, as mesas, as cadeira, as estantes e a vasta quantidade de livros. Decidi ir embora. Ao abrir deparo-me com ela, parada. Olhando fixamente para mim.

Epifania

Momentos de riso são esquecidos no dia seguinte.
Momentos de choro são lembrados para sempre.
Talvez, esquecemos tão facilmente dos momentos bons por eles serem tão corriqueiros. Mas quando percebermos que a vida é feita de momentos corriqueiros, passaremos a aproveitá-la mais intensamente.
Passaremos a rir de verdade e perceber que cada riso tem um som, um gesto e um motivo diferente.
Passaremos a chorar de verdade, mas apenas quando nós tivermos motivos que exijam uma lágrima.
Respiraremos com mais intensidade e perceberemos que o ar nunca é o mesmo. Algumas vezes é puro, mas em outras é impuro. Mas não importa. O importante é sabermos que estamos respirando.
Começaremos a acordar de manhã e dar um bom dia à casa, ao sol, às pernas, à barriga, à cabeça. Olharemos no espelho e riremos da nossa decadência física ao acordar. E veremos que no decorrer do dia vamos levantando, nos reerguendo de novo.
Ajeitamos o cabelo, escovamos a boca, nos maquiamos e vestimos nossa armadura, e em menos de meia hora nos transformamos naquela pessoa que está pronta para partir para a guerra.

Aos meus amigos

Amigos são aqueles que fazem dos momentos mais curtos, eternos, que fazem com que esses momentos passem em câmera lenta, para que seja aproveitado cada sorriso, cada abraço, cada conversa jogada fora.
Amigos nos fazem felizes quando estamos tristes e sentem-se felizes quando nos vêem felizes, são esses os amigos de verdade, são esses os amigos a quem podemos confiar à vida.
Se amigos forem irmãos que podemos escolher, vocês são e sempre serão meus irmãos queridos e uma das minhas melhores escolhas. Mesmo que um dia nos separemos, trocaremos cartas, telefonemas e encontros. Mas um dia os encontros não serão mais possíveis, cartas, quase nunca, telefonemas escassos. Porém, lá na frente, mesmo sem nos ver, eu direi com muito orgulho que tenho amigos que fazem parte da minha história, e foram esses amigos que se entristeceram com as minhas aflições e se alegraram com as minhas vitórias, que seguraram na minha mão e me convenceram que a vida não se resume apenas em sorrisos e abraços, e sim em momentos de tristezas, dúvidas e lágrimas que, por pior que sejam, são insignificantes quando temos amigos para compartilhá-las.